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Angola, uma “casa sem pai” no primeiro ano do segundo mandato do PR

Angola está transformada “numa casa sem pai”, um ano após a reeleição de João Lourenço, queixam-se os angolanos que lamentam ter sido “descartados” após as eleições de 2022 e criticam a “inoperância” do Presidente na resolução dos problemas.
23 Agosto 2023, 05h03

Angola está transformada “numa casa sem pai”, um ano após a reeleição de João Lourenço, queixam-se os angolanos que lamentam ter sido “descartados” após as eleições de 2022 e criticam a “inoperância” do Presidente na resolução dos problemas.

Para muitos dos angolanos ouvidos pela Lusa, a subida galopante dos produtos da cesta básica e o “sofrimento e degradação” da condição socioeconómica das famílias resultam da “inoperância” de João Lourenço.

Em Luanda, maior praça eleitoral do país, onde o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola, no poder desde 1975= sofreu, pela primeira vez, uma derrota e viu a rival UNITA (União para a Independência Total de Angola) arrebatar a capital, o povo critica o incumprimento das promessas eleitorais quase um ano depois das eleições que reconduziram o Presidente angolano a um segundo mandato.

“Na verdade, não vejo mudança nenhuma, as promessas não estão a ser cumpridas até hoje, o nível de desemprego tende a aumentar a cada dia e nem adianta falar da cesta básica porque é do conhecimento de todos que as coisas tendem a piorar”, disse Soraia Chico, 34 anos.

Para a jovem desempregada, o primeiro ano de reeleição de João Lourenço tem sido marcado por incumprimentos das promessas eleitorais: “Por mim, não vejo mudança nenhuma, todas as promessas dadas por ele (Presidente da República) foram todas falsas”.

“Porque nós, povo, somos vistos como peça fundamental no momento das eleições, mas após isso somos descartados”, lamentou, dando nota negativa à atual governação que, transformou Angola “numa casa sem pai”.

“Estamos como se não tivéssemos um líder, é tipo uma casa sem um pai presente, não tem ordem, não sabemos onde nos dirigir para a gente obter respostas que queremos como povo”, disse à Lusa, no Largo da Maianga, centro de Luanda.

Numa das passadeiras daquele conhecido largo da capital angolana, estava Gaspar Santos, 31 anos, que lamentou um país “estático e sem melhorias à vista”.

Gaspar, que diz estar empregado, defende que o Presidente angolano deveria ser mais seletivo nas políticas, investindo em setores como educação e saúde.

Hoje, Angola “não está a andar”, mas sim a “a afundar”, observou, aludindo a um dos lemas do também presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), João Lourenço de que iria “melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”, caso fosse Presidente da República de Angola.

Com um exemplar do Jornal de Angola (única publicação diária do país) na mão, enquanto pede para engraxar os sapatos no Largo da Maianga, o funcionário público Fortunato Fernandes apontou a carência da alimentação como a “parte mais triste” da atual governação, que ainda assim está “boa”.

Nas declarações à Lusa, Fortunato Fernandes de 43 anos, recordou, no entanto, o “bom início” do primeiro mandato de João Lourenço que diz contrastar com este período, considerando que o chefe de Estado “deveria dar mais apoios aos empresários”.

Um terceiro mandato de João Lourenço contraria a Constituição angolana, que determina apenas dois mandatos consecutivos, também foi comentado: “isso vai depender da vontade da população”, salientou.

Para Fortunato, João Lourenço tem alguns “maus conselheiros”, sobretudo figuras da atual governação, que trabalharam também o com ex-presidente, José Eduardo dos Santos.

O Presidente angolano, João Lourenço, foi reeleito em 24 de agosto de 2022, para um segundo mandato de cinco anos, após vencer, como cabeça de lista do MPLA.

Na zona do Grafanil Bar, município angolano de Viana, nos subúrbios de Luanda, as “zungueiras”, como são conhecidas as vendedoras ambulantes, transformaram o espaço em mercado a céu aberto e também ecoam preocupações sobre o aumento dos preços dos produtos alimentares e a carência de vida, pedindo intervenção do Presidente.

Com dezenas de sacos de plástico expostos na sua bancada, Teresa Matumona, comerciante da praça, disse à Lusa que a vida dos angolanos se “agrava dia após dia”, dando como exemplo o aumento do preço de arroz, vendido em sacos de 25 quilos.

“O país está pior. Saco de arroz a 20.000 kwanzas (22 euros) é para fazer o quê?” – questionou.

Falando ao lado de colegas de ofício, que aplaudiam a sua intervenção, Teresa disse que o negócio e a vida estão mal: “Não estamos a aguentar”, atirou, criticando o que considera de “inoperância” do Presidente angolano, que diz “estar a mentir sempre às pessoas”.

“Não está a fazer nada, está sempre a mentir as pessoas, até quando vamos ficar assim? Tem de mudar, as coisas têm de baixar, ele (Presidente da República) falou que vai baixar as coisas, mas isso não está a acontecer, tudo está mal”, lamentou.

Teresa Matumona salientou que as queixas são generalizadas. “João Lourenço estás a fazer o quê? Povo está a sofrer, se não estás a aguentar vai e deixa (o poder), está mal, ou estão a espera que nós comecemos a morrer?”.

Adélia Capequeno, estudante de 22 anos, indicou o aumento dos preços da cesta básica como uma das principais “manchas” neste primeiro ano de reeleição de João Lourenço, criticando ainda a atual pressão diária dos agentes da fiscalização sobre as “zungueiras”.

“Neste primeiro ano de novo mandato não houve qualquer melhoria, não estou a gostar deste mandato”, realçou a estudante.

Melhorar as condições básicas da vida das populações, com água, luz elétrica, alimentação e educação de qualidade, constituem ainda as “prioridades” de Soraia Chico, caso fosse a Presidente de Angola.

 

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